Foto: Bob Gosford |
No final de 2017, um artigo publicado por pesquisadores australianos afirma que sim, que as aves de rapina são capazes de propagar fogo na vegetação, capturando e lançando propositalmente galhos em chamas ou brasas para iniciar incêndios em outros locais, assim acuando possíveis presas para fora da vegetação (link_do_artigo).
O estudo relata que três espécies de rapinantes australianos (Milvus migrans, Haliastur sphenurus e Falco berigora) têm esse hábito, e talvez outras espécies façam o mesmo em outras partes do mundo.
Será então verdade então? Vamos aos fatos...
É importante ressaltar que essas observações comportamentais não foram devidamente comprovadas. O estudo publicado pelos pesquisadores foi baseado em informações etnobiológicas (entrevistas com os nativos e guarda-parques). Do jeito que a notícia se espalhou na mídia, parece ser fato que esses rapinantes propagam fogo propositalmente na vegetação.
De fato, muitas espécies de rapinantes que vivem em savanas e campos naturais podem se aproximar de incêndios e associá-los a oportunidade de caça, como é o caso dos nossos brasileiríssimos gavião-caboclo (Heterospizias meridionalis), falcão-de-coleira (Falco femoralis), gavião-pernilongo (Geranospiza caerulescens) dentre outros, capturando animais mortos ou afugentados pelas labaredas. Além disso, há espécies como, por exemplo, a águia-serrana (Geranoaetus melanoleucus), que têm o costume de voar com galhos secos e “brincar” com esses galhos, soltando-o no céu e tentando capturar em seguida, como forma de desenvolver as habilidades motoras. Muitas outras espécies, capturam gravetos e usam para construir ninhos ou retoca-los, por vezes voando por centenas de metros com o graveto até o ninho.
Uma pessoa leiga que observar essas aves voando próximas de incêndios ou com gravetos entre as garras, pode facilmente interpretar erroneamente o comportamento. Há diversas lendas pelo mundo afora de gaviões que incendeiam áreas para capturar suas presas. No Brasil mesmo, na região pantaneira, muitos peões acreditam que o gavião-caboclo (H. meridionalis), por lá chamado de gavião-fumaça, seja capaz de coletar galhos em brasa para propagar o incêndio e continuar caçando.
Minha conclusão..
Apesar dessas aves frequentemente associarem incêndios a oportunidades de caça, e apesar delas serem suficientemente inteligentes para desenvolver tal comportamento, ainda não há relatos comprovados, é preciso de um suporte documental (observações de campo, preferencialmente fotografas/filmadas). Portanto, até o momento não há nenhuma prova contundente que esse comportamento ocorra na natureza.
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