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Carcará Caracara plancus (Miller, 1777)
Ordem: Falconiformes | Família: Falconidae | Monotípica


Indivíduo adulto. Foto: Roberto Torrubia

Trata-se de um dos rapinantes mais comuns do Brasil, pode ser encontrado em campos naturais, pastagens, praias até nos centros urbanos. Bastante oportunista, alimenta-se desde invertebrados, pequenos mamíferos, até animais moribundos ou atropelados nas estradas. Também conhecido como carancho, gavião-de-queimada, caracaraí e caracará.


Descrição:
Mede cerca de 56 cm de comprimento, envergadura de até 123 cm, peso médio de 834 g (macho) e 953 g (fêmea) (Márquez et al. 2005). Adulto apresenta plumagem geral que varia do marrom ao preto, cabeça branca com um penacho preto, pescoço branco listrado de preto, tarsos amarelos. Em voo, assemelha-se a um urubu mas é reconhecível por duas manchas de cor clara na ponta das asas, além da cabeça diferenciada. O jovem é marrom mais claro, coberteiras manchadas, sem o padrão barrado do peito, com estrias mais escuras pelo pescoço e peito.

Espécies-similares: É muito semelhante ao Caracara cheriway (caracará-do-norte) que ocorre ao norte do rio Amazonas. Na zona de contato das duas espécies (Amazônia central, ao longo do rio Solimões/Amazonas) pode haver indivíduos híbridos ou sobreposição das espécies, sendo incerta e confusa a diferenciação das duas espécies através da plumagem.

Dieta e comportamento de caça: Onívoro, é bastante oportunista, aproveita de todas as fontes disponíveis. Alimenta-se desde invertebrados que são capturados em suas caminhadas no solo, peixes morrendo em poças, lagartos, cobras e caranguejos, até animais moribundos ou atropelados nas estradas. Saqueia ninhos de outras aves, inclusive aves grandes como os ninhos de tuiuiú (Jabiru mycteria), e às vezes, fica nas proximidades dos ninhais para comer restos de comida caídos no chão, ovos ou filhotes deixados sem a presença dos pais. Ocasionalmente consome a polpa de alguns frutos, como o coco acuri. Pode se aproximar de gado, capivaras e outros mamíferos, para retirar carrapatos, bernes e outros parasitas. Chega a reunir-se a outros carcarás para matar uma presa maior, comportamento não muito comum para a espécie.

Também pode vir a caçar, podendo capturar aves e outros pequenos vertebrados. Quando caça, costuma matar suas presas com bicadas na nuca. No interior do Mato Grosso, W. Menq (obs. pess.) observou um caracará adulto capturando um filhote de ema (Rhea americana) com tamanho próximo ao do falcão.

É também uma ave comedora de carniça, chegando logo a uma carcaça. Pode ser observado facilmente voando ou pousado junto a urubus (Coragyps atratus) pacificamente. Geralmente voa e segue os urubus para localizar uma carcaça. É dotado de poderoso sistema digestivo e o que não consegue digerir é regurgitado.

Pode realizar cleptoparasistimo (ato de roubar alimento) em outras aves, inclusive aves de rapina. Há relatos de C. plancus roubando presas recém capturadas de Parabuteo unicinctus (Freitas & Lemos, 2006), Heterospizias meridionalis (obs. pess. Rafael Albo), dentre outros.


Indivíduo adulto predando serpente. Fortaleza/CE, Março 2012. Foto: Ricardo Leite

Indivíduo jovem retirando parasitas de capivara. Curitiba/PR, Jan 2015.
Foto: Willian Menq

Grupo forrageando na beira da estrada. Astorga/PR, Jan. 2015.
Foto:
Jessica M. Nascimento Menq

Reprodução: Constrói o ninho com galhos e ramos com estrutura rasa de gravetos e pedaços de madeira ou usa ninhos abandonados. Coloca de 2 a 3 ovos, mais raramente 4, de colorido que varia entre branco, vermelho-esbranquiçado, camurça ou vináceo, com manchas vermelho-pardas. Os ovos são chocados pelo casal durante 28 dias, com filhote voando no terceiro mês de vida. Normalmente os pais criam somente um filhote por temporada (Antas, 2005; Sick, 1997).

Distribuição geográfica: Possui distribuição neotropical, ocorrendo desde o centro do Peru, Sul da Bolívia, Chile, Argentina, Paraguai e Uruguai até a Terra do Fogo. No Brasil, ocorre ao sul do rio Amazonas até o Rio Grande do Sul.

Habitat e comportamento: Habita campos abertos, savanas, borda de matas, praias e áreas urbanas (Almeida et al, 2009; Sick 1997). Geralmente busca seu alimento no solo ou pousado a baixa altura, onde passa maior parte do tempo, seja no meio da vegetação, margens de rios ou praias. Pode ser observado caminhando sobre a plantação recém colhida a procura de invertebrados, e animais afugentados pelas colheitadeiras. Durante a noite ou nas horas mais quentes do dia, costuma ficar pousado nos galhos mais altos, sob a copa de árvores isoladas ou nas matas ribeirinhas. Para avisar os outros carcarás de seu território ou comunicação entre o casal, possui um chamado que origina o seu nome comum, "caracará". Nesse chamado, dobra o pescoço e mantém a cabeça sobre as costas, enquanto emite o som (algumas espécies de aves de rapina tem o mesmo hábito de dobrar o pescoço para trás quando emitem som). Nas horas mais quentes do dia pode ser observado planando alto, muitas vezes junto aos urubus.

Movimentos: Espécie residente.


:: Página editada por: Willian Menq em Fev/2018. ::



Referências:

Antas, P. T. Z. (2005) Aves do Pantanal. RPPN. Sesc.

Dove, C.J., and R.C. Banks (1999) A taxonomic study of crested caracaras (Falconidae). Wilson Bulletin 111:330-339.

Freitas, A.A.R., & M. Lemos. (2006) Cleptoparasitismo em aves de rapina. Boletim ABFPAR 9(1):39-43.

Hofling, E. (1993) Aves no Campus. São Paulo. Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo, 126 p.

Márquez, C., Gast, F., Vanegas, V. & M. Bechard (2005) Aves Rapaces Diurnas de Colombia. Bogotá: Instituto de Investigación de Recursos Biológicos Alexander von Humboldt. 394 p.

Sazima, I. (2007). The jack-of-all-trades raptor: versatile foraging and wide trophic role of the Southern Caracara (Caracara plancus), with comments on feeding habits of the Caracarini. Rev. Bras. Ornitol. 15(4): 592-597.

Sick, H. (1997) Ornitologia brasileira. Rio de Janeiro: Ed. Nova Fronteira, 862p.

Site associado: Global Raptor Information Network

 



Citação recomendada:

Menq, W. (2018) Caracará (Caracara plancus) - Aves de Rapina Brasil. Disponível em: < http://www.avesderapinabrasil.com/caracara_plancus.htm > Acesso em: .



 
 

Distribuição Geográfica:

Status: (LC) Baixo risco

Canto (gravado por: Rosendo Fraga)
By: xeno-canto.




Indivíduo adulto.
Rio Grande/RS, Março de 2015.
Foto: Willian Menq
 

Indivíduo adulto.
Jandaíra/BA, Agosto 2012.
Foto:
Gilvan Moreira
 

Indivíduo jovem
Rio Grande/RS. Dez. de 2014.
Foto: Willian Menq
 

Indivíduo adulto
Miranda/MS, Out. 2017.
Foto: Willian Menq
 

Indivíduo adulto.
Ubatuba/SP, Maio de 2012.
Foto:
Ademar H. Kawaguti
 

Indivíduo adulto. Refúgio Ecológico Caiman, Miranda/MS. Set. 2010.
Foto:
Douglas P.R. Fernandes
 

Indivíduo adulto.
Miranda/MS. Setembro de 2010.
Foto:
Douglas P.R. Fernandes
 

Adulto coletando material para o ninho. Miranda/MS. Set 2010.
Foto:
Douglas P.R. Fernandes
 


Indivíduo adulto e jovem (à direita).
Rio Grande/RS, Março de 2015.
Foto: Willian Menq