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Gavião-real Harpia harpyja (Linnaeus, 1758)
Ordem: Accipitriformes | Família: Accipitridae | Monotípica

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Indivíduo adulto. Foto: Juliano Mafra

Trata-se de uma das maiores e mais poderosas águias do mundo. Florestal, pode ser encontrada na região amazônica e em alguns pequenos trechos de Mata Atlântica da região sudeste, especialmente no sul da Bahia e norte do Espírito Santo. É uma poderosa predadora, caça desde macacos, preguiças até bugios e outras presas, por vezes com peso/tamanho da própria ave. Também conhecida como harpia, uiraçu, apacanim, cutucurim, guiraçu e uiruuetê.


Descrição:
Mede de 90 a 105 cm de comprimento, sendo a maior águia das Américas e uma das maiores do mundo. Pesa de 4 a 5 kg (machos) e de 7,6 a 9 kg (fêmeas); Possuí asas largas e arredondadas que pode atingir até 2 m de envergadura (Sick, 1997; Ferguson-Lees & Christie, 2001). O adulto apresenta o dorso cinza-escuro quase negro, com peito e abdômen branco, pescoço com colar negro, e cabeça cinza com um penacho bipartido. Apresenta as partes inferiores das asas e calções brancos com estrias negras, e cauda escura com três barras cinzas. O jovem apresenta a plumagem clara, variando do branco ao cinza claro. Demora de 4 a 5 anos para atingir a plumagem adulta. Linnaeus cientista que a descreveu serviu-se do nome dos monstros alados da mitologia grega para designar a mais possante espécie de nosso país.

Dieta e comportamento de caça: A base da sua alimentação é constituída principalmente de mamíferos arborícolas, como preguiças e primatas, e terrestres, como cachorros-do-mato, veados, quatis, gambás e tatus. Também captura aves, como seriemas, araras e mutuns, e répteis. Graças aos tarsos e garras bem desenvolvidas, com unha do halúx de até 7 cm, consegue capturar presas com mais de 6 kg.

Caça por espreita, fica pousada procurando suas presas por longos períodos, o que a torna discreta e pouco notada, apesar de seu grande tamanho. Ao localizar uma presa, desloca com agilidade entre as copas das árvores, capturando suas presas tanto nas árvores quanto no solo. Devido a diferença de tamanho entre os sexos, o casal caça presas diferentes, o macho por ser menor e mais ágil, caçando pequenos mamíferos terrestres e aves, enquanto a fêmea maior e mais lenta, captura macacos e preguiça.

Galetti e Carvalho-Júnior (2000) coletaram vários crânios, ao longo de 15 meses, sob o ninho de um gavião-real. Cerca de 20 crânios pertencentes a duas espécies de bicho-preguiça (onze de Choloepus didactylus e nove de Bradypus variegatus) e um marsupial (Philander opossum). Muitos estudos apontam a preguiça como a principal presa dessa espécie, chegando a 36% de sua dieta (Retting, 1978) e até 79% para a região de Parintins (Silva, 2007). Eason (1989) relata o sucesso de um comportamento defensivo de um grupo de Alouatta seniculus no Peru, havendo outras observações de ataques frustrados do gavião-real em primatas na natureza (Eason, 1989). Devido a essas observações, Eason (1989) sugere a dificuldade de obtenção de uma presa ágil, como um primata, em relação a uma preguiça.

Reprodução: É monogâmica, constrói o ninho em formato de plataforma no alto de árvores emergentes, usando geralmente a primeira ramificação da árvore. O ninho é construído com pilhas de galhos e ramos secos (Sick 1997). Coloca até 2 ovos que são esbranquiçados, pesando em média 110 g, com tempo de incubação de aproximadamente 56 dias. Somente um filhote sobrevive, com os primeiros voos ocorrendo com 141 a 148 dias de idade. Após sair do ninho, permanece sempre nas proximidades, recebendo alimento dos pais com menor frequência (às vezes, uma vez a cada cinco dias) (Retting, 1978). O jovem mantém um período de dependência dos adultos superior a um ano, o que faz com que os casais se reproduzam a intervalos de pelo menos dois anos.


Adulto e filhote no ninho. Alta Floresta/MT, Junho de 2009. Foto: Rudimar Cipriani

Distribuição Geográfica: De ampla distribuição, originalmente ocorria desde o sul do México à Bolívia, nordeste da Argentina e por quase todo o Brasil. No Brasil, historicamente já foi registrada em quase todos os estados, exceto alguns da região nordeste (Sick, 1997). Atualmente, é encontrada apenas na região amazônica e em alguns remanescentes florestais preservados da região centro-oeste e sudeste do Brasil, além de registros pontuais no sul do Brasil.

Habitat e comportamento: Habita florestas de planícies e altitudes de até 2.000 m do nível do mar. Vive em extensas áreas de floresta, podendo ocorrer em pequenos fragmentos isolados desde que haja presas suficientes para sua existência. Seu canto é um assobiado, forte e bem audível à distância. Embora seja uma ave grande, é extremamente discreta, prefere pousar entre a vegetação e não no topo da copa das árvores, raramente voa acima da floresta, também raramente aparece em áreas abertas.

Devido ao seu grande porte e imponência, sempre foi troféu cobiçado tanto por índios como por caçadores. Em aldeias indígenas (Xingu), eram mantidas em gaiolas desde filhotes para serem retiradas penas para ornamentos. Para algumas tribos indígenas, a harpia é considerada símbolo de liberdade e altivez. Em outras tribos é mantida em cativeiro como propriedade do cacique, e quando o cacique morre, a ave também é morta ou até enterrada viva com seu dono (Sick, 1997).

Movimentos: Espécie residente.

Ameaças e conservação: Dentre as ameaças, o desmatamento, a fragmentação e alteração de hábitats, são as principais causas do desaparecimento da espécie em boa parte do Brasil. Além disso, indivíduos que vivem próximos a áreas habitadas podem sofrer abates por parte de avicultores, com o intuito de evitar ataques à criação (Mikich & Bérnils, 2004). Há também relatos de caça para fins de consumo humano, como já relatado por Freitas et al. (2014) na região da Reserva Biológica Gupuri, Maranhão. A proteção e fiscalização de áreas com ocorência da espécie, educação ambiental, estudos populacionais e monitoramentos, são medidas emergenciais para a conservação da espécie no Brasil.


Indivíduo adulto. Barra do Bugres/MT, Outubro de 2012. Foto: Fabiano Oliveira

 



:: Página editada por: Willian Menq em Jan/2018. ::




Referências:

Aguiar-Silva, F. H.; Sanaiotti, T. M.; Jaudoin, O.; Srbek-Araujo, A. C.; Siqueira, G. & Banhos, A. (2012) Harpy Eagle sightings, traces and nesting records at the "Reserva Natural Vale", a Brazilian Atlantic Forest remnant in Espírito Santo, Brazil. Revista Brasileira de Ornitologia, 20(2), 148-155

Albuquerque, J. L. B. (1995) Observations of rare raptors in southern Brazil. Journal of Field Ornithology, EUA, v. 66, p. 365-369.

Aletti, M.; Carvalho-junior, O. (2000) Sloths in the diet of a Harpy Eagle nesting in eastern Amazon. Wilson Bulletin, v. 112, n. 4, p. 535-536.

Barnett, A. A., V. Schiel, A. Deveny, J. Valsko, W. R. Spironello and C. Ross (2011) Predation on Cacajao ouakary and Cebus albifrons (Primates: Platyrrhini) by harpy eagles. Mammalia 75: 169-172

Chebez, J. C. (1990). La nidificación de la Harpia (Harpia harpyja) en Argentina. Hornero, v. 13, p. 155-158.

Conselho Estadual do Meio Ambiente (CONSEMA) (2011) Resolução   nº02/2011—Reconhece a lista oficial de espécies da fauna ameaçadas de extinção no Estado de Santa Catarina e dá outras providências. Florianópolis: CONSEMA/ SDS.

Ferguson-Lees, J. e D. A. Christie (2001) Raptors of the World. New York: Houghton Mifflin Company.

Freitas, M. A.; Lima, D. M. & Gomes, F. B. R. Registro de abate de gaviões-reais Harpia harpyja (Accipitridae) para consumo humano no Maranhão, Brasil.

INPA - Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia. (2009) Projeto Gavião Real. disponivel em: Fev de 2010 <gaviaoreal.inpa.gov.br> Acesso: Fevereiro de 2010.

Miranda, E. B. P. (2015) Conservation implications of Harpy Eagle Harpia harpyja predation patterns. Endangered Species Research 29: 69–79.

Oliveira, A. L., Silva e silva, R. (2006) Registro de Harpia (Harpia harpyja) no cerrado de Tapira, Minas Gerais, Brasil. Revista Brasileira de Ornitologia 14 (4) 433-434.

Retting, N. L. (1978) Breeding behavior of the Harpy eagle (Harpia harpyja). Auk, v. 95, n. 4, p. 629-643.

Rio Grande do Sul (2014) Táxons da fauna silvestre do Estado Rio Grande do Sul ameaçadas de extinção. Decreto N.º 51.797, de 8 de setembro de 2014. (publicado no DOE n.º 173, de 09 de setembro de 2014).

Robinson, S. K. (1994) Habitat selection and foraging ecology of raptors in Amazonian, Peru. Biotropica, v. 26, n. 4, p. 443-158.

Srbek-Araujo, A. C.; Chiarello, A. G. (2006). Registro recente de harpia, Harpia harpyja (Linnaeus) (Aves, Accipitridae), na Mata Atlântica da Reserva Natural Vale do Rio Doce, Linhares, Espírito Santo e implicações para a conservação regional da espécie. Rev. Bras. Zool. vol.23 no.4 Curitiba.

Sick, H. (1997). Ornitologia Brasileira. Rio de Janeiro, Editora Nova Fronteira.

Site associado: Global Raptor Information Network

 

Citação recomendada:

Menq, W. (2018) Gavião-real (Harpia harpyja) - Aves de Rapina Brasil. Disponível em: < http://www.avesderapinabrasil.com/harpia_harpyja.htm > Acesso em: .



 
 

Distribuição Geográfica:

Status: (VU) Vulnerável

Canto - (gravado por: Bradley davis)
By: xeno-canto.





Indivíduo com quati nas garras.
Pium/TO. Julho de 2008.
Foto:
Robson Silva e Silva
 

Indivíduo adulto no Parque Estadual do Turvo/RS. Março de 2015.
Foto: Dante Meller
 

Fêmea jovem em vôo.
Canarana/MT, Julho de 2009.
Foto:
Isabel Pellizzer
 

Fêmea adulta com preguiça-real. Candeias do Jamari/RO.
Foto:
Danilo Mota
 

Filhote realizando os primeiros saltos. Out 2011. Candeias do Jamari/RO.
Foto:
Danilo Mota.
 

Indivíduo jovem.
Pium/TO, Set de 2010.
Foto:
Marco Crozariol
 

Indivíduo adulto.
Parauapebas/PA, Dez. 2011.
Foto:
Silvana Licco