Observando rapinantes
Dicas para observação de aves de
rapina diurnas
Por: Willian Menq | 10 de abril de 2018

 
 

Como, quando e onde observar águias, gaviões e falcões?


Gavião-pato (Spizaetus melanoleucus).

Observar aves de rapina na natureza não é nada fácil. Rapinantes planadores são mais fáceis de serem encontrados do que aqueles que vivem no interior das matas. Espécies que vocalizam constantemente são mais detectadas do que aquelas que não vocalizam. É necessário muita paciência e atenção, além de um conhecimento mínimo sobre o comportamento das espécies-alvo, horários de maior atividade, requerimentos de hábitats e áreas de ocorrência.

Neste artigo, segue algumas dicas importantes para observadores de aves, fotógrafos e ornitólogos interessados em observar ou fotografar rapinantes diurnos.

Como observar

Antes de tudo é preciso definir o objetivo, se deseja procurar uma espécie em específico, um grupo ou lista de espécies, se pretende fotografar as aves em voo ou pousadas, etc. É através do objetivo que será determinado o método de procura, o local e o período para observação dos rapinantes.

Ponto fixo: O ponto fixo é indicado principalmente para observadores interessados em registrar espécies de rapinantes florestais ou fazer listas de espécies nesse ambiente (riqueza e densidade). O método consiste em fazer um ponto de observação em um determinado local, permanecendo por um longo período da manhã (com atenção especial aos horários das térmicas), registrando as espécies que por ali transitarem. O ponto deve ser escolhido em um local adequado com um bom campo de visão, como na borda de uma floresta, no alto de uma torre de observação, em uma trilha suspensa, interior de vales, encostas, e etc.

No ponto fixo os encontros com os rapinantes serão basicamente com as aves em voo, por isso é necessário o uso de câmeras com zoom de longo alcance e binóculos. É um método que demanda muito esforço e paciência, muitas vezes é necessário permanecer no local por mais de 3 h para visualizar uma espécie rara. Para tornar-se menos cansativo, recomenda-se reunir um grupo de pessoas e ir revezando a observação na procura dos rapinantes.

Transectos a pé: As transeções são indicadas para registrar espécies de áreas abertas (campos naturais, ou áreas urbanas). Neste método o observador percorre uma determinada trilha caminhando a pé e registrando os indivíduos. O mais importante na transeção é o trajeto escolhido, trilhas no interior de florestas são interessantes para procurar espécies estritamente florestais que não planam, como é o caso dos falcões-florestais (Micrastur spp.) e tautaós (Accipiter spp). Trilhas na borda de florestas são altamente recomendadas, podendo resultar em excelentes registros. Tanto a borda quanto as áreas abertas próximas são muito utilizadas por espécies florestais. O gavião-pato (Spizaetus melanoleucus), por exemplo, costuma sobrevoar bordas e áreas abertas próximas (campos e savanas) para caçar aves e pequenos mamíferos. O ideal é realizar as transecções assim que amanhece ou no final da tarde.

Rotas por veículos/barcos: As rotas por veículos/barcos utiliza os mesmos princípios da transeção realizada a pé, porém, empregando-se um veículo, como um carro ou barco. É indicada para procurar espécies de áreas abertas ou de bordas de matas. A grande vantagem deste método é que com ele é possível cobrir uma grande área em menor tempo. Além disso, as aves de rapina são mais tolerantes a aproximação com veículos, o que facilita a observação. As rotas utilizadas geralmente são estradas e trilhas pré-existentes. É importante que a rota determinada apresente baixo movimento de carros, ruídos e pessoas, fatores que atrapalham a detectabilidade. Para execução deste método é necessário o auxílio de outra pessoa para conduzir o veículo, assim o observador poderá se dedicar integralmente na procura das aves. Recomenda-se que a velocidade máxima seja entre 25-30 km/h; O uso de barco é recomendado para procurar espécies que habitam ambientes aquáticos ou áreas de difícil acesso terrestre.

Playback: O playback consiste no uso de caixinhas de som para reproduzir a vocalização de determinada espécie, esperando que elas respondam a esses chamados. O playback é usado como um complemento dos métodos anteriores, geralmente para atrair ou confirmar a presença de uma espécie. Rapinantes florestais que vocalizam com frequência, como os do gênero Accipiter e Micrastur, costumam responder chamados de playback. O tempo de reprodução da gravação deve ser de no máximo 2 minutos, sendo necessário um tempo de espera de pelo menos 3 min. É preciso seguir uma série de cuidados no uso do playback. Leia aqui algumas dicas e recomendações importantes.


Exemplo de um ponto fixo em local adequado para observação de rapinantes florestais planadores.
Área elevada com um bom campo de visão do dossel da floresta.

Quando observar aves de rapina

Período do dia: De maneira geral, o melhor horário para observar a maioria das espécies de rapinantes diurnos é no período entre o final da manhã e início da tarde, período em que as correntes de ar ascendentes estão mais favoráveis e essas aves aproveitam para planar e/ou se deslocar pelo seu território. Esse período é o que chamamos de “horário das térmicas” ou “horário dos gaviões”.

Nesses horários, uma ampla variedade de espécies podem ser registradas em voos circulares, desde águias-florestais raras como o gavião-pato (Spizaetus melanoleucus) até rapinantes pequenos e discretos como o gavião-bombachinha (Harpagus diodon). É importante estar atento, vários gaviões costumam voar muito alto, podendo facilmente passar despercebidos pelos observadores ou ser confundido com urubus ou outras espécies comuns.

Vale ressaltar que o horário das térmicas varia de acordo com a região. Em boa parte das florestas do sul e sudeste do Brasil, o pico de atividade dos rapinantes em voo é entre 9:00 e 13:00 h. Em regiões mais quentes, os rapinantes têm atividades aéreas um pouco mais cedo. Enquanto que nas regiões mais frias, como nas serras catarinenses, os gaviões podem estar ativos somente a partir das 10:00 h se estendendo até as 15:00 h. Após esses horários a chance de topar com um indivíduo em voo diminui drasticamente.

Rapinantes estritamente florestais que raramente planam, como os falcões do gênero Micrastur, são mais detectáveis nas duas primeiras horas da manhã. Nesses horários estão mais vocalmente ativos e susceptíveis a responder chamados de playback.

Período do ano: A época do ano que os rapinantes são mais ativos é nas semanas que antecedem o início do período reprodutivo (nidificação), que varia de acordo com a região do país (julho e agosto no sul/sudeste). Nesse período as aves de rapina são vocalmente mais ativas e fazem exibições aéreas, e iniciam o estabelecimento dos territórios e construção/reforma dos ninhos. É um período interessante para procurar espécies raras que planam com menor frequência, como é o caso do gavião-de-penacho (Spziaetus ornatus).

Em relação as espécies migratórias, é importante conhecer o período em que elas permanecem no Brasil. O falcão-peregrino (Falco peregrinus) e o gavião-de-asa-larga (Buteo platypterus), por exemplo, só são encontrados no Brasil entre os meses de outubro e abril.

Com exceção das migratórias, qualquer época do ano é favorável para a observação de rapinantes, geralmente o período do dia influência mais na detectabilidade do que o período do ano.

Clima: As variáveis climáticas afetam o nível de atividade das aves de rapina. Dias com chuva, nevoeiro, vento forte, ou temperatura muito elevada devem ser evitados, pois diminui drasticamente a detectabilidade das espécies.


Gavião-pega-macaco (Spizaetus tyrannus), voando no "horário das térmicas". Foto: Willian Menq.

Onde observar aves de rapina

É possível procurar aves de rapina em qualquer lugar, mesmo nas cidades. Pelo menos 17 espécies podem ser encontradas nas áreas urbanas. Porém, é nos ambientes naturais que se concentra a maior diversidade de espécies. Há locais na Amazônia e na Mata Atlântica, por exemplo, que podem ser registradas mais de 50 espécies de rapinantes diurnos.

Procure visitar áreas protegidas como parque nacionais, estaduais, municipais, reservas biológicas, e áreas particulares. No Brasil, cada ambiente – florestas, campos, cerrado, áreas úmidas – tem avifauna própria, às vezes com espécies endêmicas. Para aproveitar melhor a saída a campo, antes de ir veja os ambientes que vai encontrar e estude neste site as espécies típicas. Você pode procurar as espécies por região do país ou fazer uma busca personalizada.

Binóculo e câmera fotográfica

O uso de binóculo é indispensável para qualquer observador de aves de rapina, facilita a identificação e amplia a quantidade e a qualidade das observações. Os ideais são os binóculos 10x42 ou 8x42, pois são leves, portáteis, possuem alta luminosidade e um amplo campo de visão. Procure sempre por material de qualidade, dando preferência às marcas tradicionais do mercado.
Em relação as câmeras, modelos cropados com lentes de 400 mm em diante são suficientes para um bom registro. Câmeras compactas com zoom de 50x ou mais, como a Canon SX50 HS ou a Nikon P610, P900, por exemplo, também se saem muito bem nessas atividades, sendo um ótimo custo-benefício para fotógrafos amadores.

Vestimenta e Segurança

  • Use roupa leve, de preferência tecidos que não absorvam muita água (encharcam). Utilize vestuário de cores discretas que se confundam com a vegetação, como o cinza, marrom ou verde. Cores berrantes/chamativas, como vermelho ou amarelo, não só denunciam a sua presença como também assustam as aves.
  • É importante usar calçados confortáveis e fechados, como botas ou tênis. Bota de cano alto é uma boa proteção contra picadas de cobras ou carrapatos. O chapéu com proteção UV é outro acessório indispensável para se proteger do sol ou da chuva.
  • Se você suspeitar que uma área esteja sendo usada como ninho, não se aproxime não perturbe, observe de uma distância segura para a ave.
  • Sempre avise alguém o local onde está indo
  • Não acesse áreas privadas sem autorização.
  • Olhe onde está pisando, cobras, pedras, buracos podem estar no seu caminho.
  • Se visitar local distante, faça um conhecimento prévio da região, postos de saúde e polícia próximos.
  • Em áreas extensas leve sempre uma bússola ou GPS com bateria extra.

Use este site para conhecer mais sobre o comportamento e hábitos das espécies, e surpreenda-se com a riqueza de rapinantes presentes no Brasil. Identificar aves de rapina não é tão simples, há gaviões que são muitos parecidos entre si, outros possuem mais de três tipos de plumagem, além de fases diferenças em jovens e formas melânicas.

Quer aprender a identificar rapinantes? Saiba mais neste link.