Acauã Herpetotheres cachinnans (Linnaeus, 1758)
Ordem: Falconiformes | Família: Falconidae | Politípica (3 subespécies)
Indivíduo adulto. Ribeirão Cascalheira/MT. Foto: Willian Menq |
Falcão especializado na captura de serpentes, inclusive de espécies peçonhentas. Presente em todo o Brasil, é popularmente conhecido pelo seu canto inconfundível, canta bastante ao entardecer e ao amanhecer, com chamados que podem durar vários minutos. Também chamado de macauã, gavião-cova-caiau e deus-quer-um.
Descrição: Mede de 45-53 cm de comprimento, peso de 408-597 g (macho) e 590-655 g (fêmea) (Márquez et al. 2005). Apresenta coloração branco-creme predominante, com dorso marrom quase negro, e uma máscara negra estendendo-se dos olhos até a nuca. A cauda, longa e negra, possui 5 listras brancas estreitas; íris escura, com a cera e tarsos amarelados. As penas do alto da cabeça tanto podem estar abaixadas, formando uma silhueta arredondada, como eriçadas, aumentando o tamanho da cabeça, dando a impressão de ser "cabeçudo". Em voo, as asas parecem curtas e arredondadas, pequenas em proporção à cabeça e cauda. Jovem tem plumagem quase idêntica a do adulto, diferenciando-se pelas estrias escuras no alto da cabeça, além de discretas estrias no peito (pouco visível à distância).
Dieta e comportamento de caça: É um especialista na captura de serpentes, caça desde espécies inofensivas, como a cobra-cipó, até serpentes peçonhentas; ocasionalmente caça lagartos e morcegos. Como principal técnica de caça, fica pousado em galhos altos, expostos, de onde patrulha as imediações, e quando visualiza a presa, se atira sobre ela rapidamente dominando-a com uma bicada atrás da cabeça. Normalmente voa para um poleiro para se alimentar, levando cobras pequenas no bico e cobras grandes nas garras. Cobras pequenas são engolidas inteiras enquanto as maiores são ingeridas em pequenos pedaços (Skutch 1960, Sick 1993).
Reprodução: Usa cavidades de árvores e buracos para nidificar, e de forma mais rara usa ninhos abandonados de outros gaviões. Coloca em média 2 ovos, com período de incubação que vai de 45 a 50 dias. Os filhotes ficam totalmente emplumados em aproximadamente 57 dias, os pais dividem os cuidados parentais (Wolfe, 2959; Brown e Amadon, 1968).
Cada casal delimita um território de caça próprio, para demarcá-los, vocaliza alto, começando com chamados sequenciados, graves e curtos, semelhantes a uma risada, os quais aumentam em intensidade e duração, até chegar à frase final, traduzida como acauã ou macauã (frequentemente o canto inicialmente consiste em uma sílaba, depois em duas e no final, depois de algum tempo, em três sílabas A-CAU-Ã) (Antas, 2005).
Distribuição e subespécies: Ocorre desde o México até a Argentina, incluindo todo o território Brasileiro (Sick, 1997). São conhecidas três subespécies.
- H. c. chapmani: México até o norte de Honduras;
- H. c. cachinnans: Honduras, Nicarágua, Colômbia até o noroeste do Peru (Tumbes) e Brasil central;
- H. c. queribundus: leste da Bolívia e sudeste do Brasil, até o Paraguai e norte da Argentina.
Habitat e comportamento: Pode ser encontrado em bordas de florestas, capoeiras, florestas de galeria e savanas. Vive solitário ou aos pares, permanece boa parte do tempo pousado a média altura em árvores isoladas. Costuma cantar ao entardecer e ao amanhecer, esses chamados duram vários minutos, pode ser realizados por um indivíduo solitário ou pelo casal em um dueto. Seus chamados são tão altos que cobre a maioria dos sons produzidos na mata.
O acauã é citado na música “acauã”, cantada por Luiz Gonzaga e composição de Zé Dantas, na qual os autores relatam um pouco de seu hábito de cantar nos finais de tarde. Há muitas crendices populares envolvendo essa espécie. Algumas crendices são consideradas boas, e outras de mau agouro, dependendo da região do país. No folclore amazonense, diz-se que os gritos do acauã prenunciam chegada de forasteiros. Em alguns lugares, acredita-se que anuncia a morte de alguém da casa, enquanto em outros, a chegada da boa sorte e fortuna. Entre os índios, esse falcão é denominado como uira, jeropari que significa demônio, e, na época da postura põe os ovos em lugares diversos, que, segundo a lenda, são chocados pelo diabo. Em algumas partes do México, os indígenas acreditam que o canto desta espécie é um aviso de chuvas fortes. No nordeste do Brasil, diz a lenda que se o acauã cantar em uma árvore seca, o ano será de seca, se for em uma árvore com folhas, a chuva será boa (Antas, 2005).
Movimentos: Espécie residente.
:: Página editada por: Willian Menq em Jan/2018. ::
Referências:
Antas, P. T. Z. (2005) Aves do Pantanal. RPPN: Sesc.
Brown, L., & D. Amadon. (1968) Eagles, Hawks, and Falcons of the World. New York, NY: McGraw-Hill Book Company.
Del Hoyo, J., A. Elliott, J. Sargatal. (1994) Handbook of Birds of the World. Barcelona: Lynx Edicions.
Ferguson-Lees, J. & D. Christie. (2001). Raptors of the World. London: Christopher Helm.
Marques, A. A. B. et al . (2002) Lista de Referência da Fauna Ameaçada de Extinção no Rio Grande do Sul. Decreto no 41.672, de 11 junho de 2002. Porto Alegre: FZB/MCT–PUCRS/PANGEA, 2002. 52p. (Publicações Avulsas FZB, 11).
Márquez, C., Gast, F., Vanegas, V. & M. Bechard (2005) Aves Rapaces Diurnas de Colombia. Bogotá: Instituto de Investigación de Recursos Biológicos Alexander von Humboldt. 394 p.
Sick, H. (1997) Ornitologia Brasileira. RJ. Editora Nova Fronteira.
Silveira, L.F.; Benedicto, G.A.; Schunck, F. & Sugieda, A.M. (2009). Aves. In: Bressan, P.M.; Kierulff, M.C. & Sugieda, A.M. (Orgs), Fauna ameaçada de extinção no Estado de São Paulo: Vertebrados. São Paulo, Fundação Parque Zoológico de São Paulo e Secretaria do Meio Ambiente.
Skutch, A.F. (1960). The laughing reptile hunter of tropical America. Animal Kingdom 63:115-119.
Wolfe, L.R. (1959). Nesting of the Laughing Falcon (Herpetotheres cachinnans chapmani). Oologists' Record 33:6-9.
Site associado: Global Raptor Information Network
Citação recomendada:
Menq, W. (2018) Acauã (Herpetotheres cachinnans) - Aves de Rapina Brasil. Disponível em: < http://www.avesderapinabrasil.com/herpetotheres_cachinnans.htm > Acesso em:
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