As aves de rapina compartilham uma série de peculiaridades, em geral relacionadas à caça ativa. Muitas dessas características são exclusivas dos rapinantes, não sendo encontradas em outros grupos de aves. Abaixo, um resumo das características básicas das aves de rapina.
Visão
As aves de rapina dependem da visão apurada para encontrar presas, reconhecer outros indivíduos e detectar a aproximação de competidores. A visão dessas aves é incrível, cerca de 2 a 8 vezes mais aguçada que a visão humana. Algumas águias e gaviões localizam suas presas a grandes distâncias. A águia-real (Aquila chrysaetos), por exemplo, consegue ver uma lebre a mais de 3 km de distância. Outra característica da visão dos rapinantes é os olhos voltados para frente, resultando em uma visão binocular, o que dá uma noção de distância e profundidade, ideal para calcular manobras aéreas e ataques contra suas presas.
Os olhos dos rapinantes são extremamente grandes, representando cerca de 15% do peso da cabeça. Por isso, as aves de rapina tem a movimentação dos olhos bastante limitada dentro da caixa craniana, elas não conseguem mover os olhos para esquerda ou para a direita, para cima ou para baixo, como nos humanos. Para olhar para os lados, precisam virar a cabeça. Já as corujas (Strigiformes) compensam essa limitação através da grande flexibilidade de seu pescoço (nº maior de vértebras cervicais em relação aos outros vertebrados), sendo capazes de girar a cabeça a 270°.
As espécies diurnas enxergam colorido, alguns falcões como o francelho (Falco naumanni), são capazes de ver a luz ultravioleta. Com esta adaptação são capazes de detectar a partir de um rastro de urina, a posição de suas presas no solo. Já as corujas, por serem em sua maioria noturnas, possuem olhos muito sensíveis a luz (sensibilidade de 10 a 100 vezes mais que a dos humanos), resultando em uma ótima visão noturna. Por possuírem mais células da retina sensíveis a luz e não a cores, a maioria das corujas enxergam em cores limitadas ou possuem visão monocromática.
Esquema da visão aguçada dos rapinantes diurnos. |
Esquema da visão binocular das aves de rapina |
Audição
De modo geral, as aves de rapina possuem uma excelente audição. Escutam e distinguem muito bem o som de outro rapinante ou de uma presa agonizando. Algumas espécies têm uma audição extremamente apurada. Corujas que caçam durante a noite ou espécies que vivem em florestas densas, como a harpia (Harpia harpyja) e os falcões-florestais (Micrastur spp), usam a audição para localizar suas presas. Essas aves possuem penas em forma de disco ao redor dos ouvidos que funcionam como uma parabólica, direcionamento o som até a abertura dos ouvidos.
As corujas, diferente dos outros rapinantes, possuem grandes aberturas de ouvido. Além disso, as aberturas estão posicionadas de forma assimétrica, o ouvido direito está dirigido para cima, enquanto que o esquerdo está dirigido para baixo. Este arranjo assimétrico fornece discriminação da elevação do som através das informações de intensidade. E em conjunto com os discos faciais, as corujas conseguem discriminar, com precisão, a localização de uma fonte sonora, permitindo a captura de presas no solo sem precisar da visão.
Exemplos de espécies com discos facias,
(A) corujas,
(B) harpia (Harpia harpyja). Fotos: W. Menq. |
Esquema do crânio de uma coruja, com destaque a assimetria da abertura dos ouvidos. |
Olfato
As aves de rapina possuem o olfato bastante limitado. Mas existe uma exceção, os urubus do gênero Cathartes (C. aura, C. burrovianus e C. melambrotus). Esses urubus possuem o olfato bastante aguçado, sendo capazes de detectar a grandes distâncias o cheiro de um cadáver camuflado na vegetação. Já os demais urubus (Coragyps, Sarcoramphus) não possuem olfato apurado, dependem da visão para localizar as carcaças durante voos seus circulares.
Bico
O bico dos rapinantes é uma das características mais notáveis para distingui-las de outros grupos de aves. Os bicos são fortes, curvos e afiados, usados para rasgar a pele/carne durante a alimentação ou até para matar suas presas (no caso de Falconidae). O formato do bico varia de acordo do tipo de presa consumida. Dessa forma, espécies pequenas como o quiriquiri (Falco sparverius) apresenta um bico curto, adequado para comer insetos e roedores. A harpia (H. harpyja) possui bico pesado e extremamente forte, usado para arrancar grandes nacos de carne de suas presas, como macacos e preguiças. Já o gavião-caramujeiro (Rostrhamus sociabilis), de dieta muito específica, apresenta bico longo e curvo, usado para retirar os caramujos do interior das conchas. Os rapinantes da ordem Falconiformes (falcões e caracarás), possuem um rebordo no bico em forma de dente, usado para seccionar a espinha dorsal de suas vítimas.
Exemplos de alguns tipos básicos de bicos nas aves de rapina.Fotos: Willian Menq. |
Detalhe do bico especializado do gavião-caramujeiro
(Rostrhamus sociabilis). Foto: Willian menq. |
Garras
As garras são fortes e afiadas, sendo a principal arma usada pelas aves de rapina predadoras para capturar a matar suas presas. O formato e o tamanho das garras e tarsos variam de acordo com o tipo de presa caçada. Espécies que capturam mamíferos como a águia-cinzenta (Urubitinga coronata) ou a harpia (H. harpyja) geralmente têm tarsos grossos, dedos curtos e unhas fortes; rapinantes que caçam principalmente aves possuem dedos longos, com garras finas e afiadas, ideal para capturas de presas em voo. A águia-pescadora (Pandion haliaetus) possui calos ásperos nos dedos, o que ajuda a segurar peixes escorregadios durante a caçada.
As corujas e as águias-pescadoras (P. haliaetus) conseguem mover voluntariamente o quarto dedo para trás, junto ao dedo hálux, ficando dois dedos para frente e dois para trás. Esse posicionamento aumenta a superfície de contato durante uma investida, dando vantagem as corujas durante uma caçada. Nas águias-pescadoras esse posicionamento ajuda a reduzir o atrito durante o “mergulho” contra a presa.
Alguns tipo básicos de garras. O tamanho e formato depende do tipo de presa que a ave costuma caçar. |
Garras da harpia (Harpia harpyja), tarsos grossos,
dedos curtos, fortes e garras poderosas. |
Penas
As penas são constituídas de queratina, o mesmo material de que são formadas as unhas nos mamíferos. Cada grupo de penas desempenha uma função importante. As penas de cobertura (coberteiras) tornam as asas mais grossas na frente e o ar frui mais rápido por cima, com a função de diminuir a aderência da ave contra o vento. As penugens são penas macias localizadas perto do corpo, elas ficam por baixo das penas de contorno e tem função de manter a ave aquecida. As penas de voo, como o nome diz, auxiliam no voo da ave, as penas da ponta das asas (primárias) podem se abrir ou fechar para aumentar ou diminuir a resistência. As penas secundárias se movem para baixo aumentando a resistência, ou para cima, reduzindo-a.
As corujas apresentam penas de voo mais macias, o que possibilita um voo silencioso, não interferindo na orientação acústica durante o voo. Além disso, o voo silencioso evita que as presas detectem a aproximação da coruja.
Silhueta
Existem vários tipos de silhuetas nos rapinantes, a variação no formato das asas e da cauda é relacionada ao habitat e ao tipo de voo predominante. Espécies que vivem em ambientes abertos como os gaviões planadores, por exemplo, possuem asas longas, largas e cauda de tamanho médio, silhueta apropriada para planar aproveitando as térmicas, gastando o mínimo de energia. Rapinantes que vivem no interior de floresta, como os do gênero Spizaetus, Harpia, Accipiter e Micrastur, apresentam asas curtas, largas e cauda relativamente grande, aerodinâmica adaptada para voo ágil e reações rápidas entre os obstáculos da floresta. Aves de rapina que caçam em alta velocidade, como o falcão-peregrino (Falco peregrinus), apresentam asas longas, estreitas e cauda curta.
Detalhe da pena de voo de uma coruja, onde é possível observar as extremidades serrilhadas, modificação que garante um voo silencioso. |
Exemplos das diferentes silhuetas. O formato da silhueta geralmente está relacionado ao habitat e modo de caça predominante da espécie. |
:: Página atualizada por: Willian Menq em Abr/2018. ::
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