Gavião-pato Spizaetus melanoleucus (Vieillot, 1816)
Ordem: Accipitriformes | Família: Accipitridae | Monotípica
Águia florestal poderosa e pouco conhecida. Ocorre em grande parte do Brasil, encontrada em florestas, capoeiras e matas de galeria. Voa com frequência nas horas mais quentes da manhã, às vezes muito alto, aproveitando as correntes térmicas para ganhar ou manter altura. É um exímio caçador de aves, captura desde tucanos, papagaios, maitacas até urus e marrecas. Também chamada de apacanim e apacanim-branco.
Descrição: Mede de 51-61 cm de comprimento e peso de 750-850 g; adulto possui dorso negro, com partes inferiores, cabeça e pescoço branco, além da cauda barrada. Destaca-se uma notável máscara negra que contrasta com a íris amarelo-brilhante, além de um pequeno topete negro em forma de coroa. Indivíduo jovem é parecido com o adulto, distinguindo-se principalmente pelo topete e máscara com pequenos pontilhados brancos e barras mais finas na cauda e nas penas de voo das asas. Assim como os outros rapinantes do gênero Spizaetus, seus tarsos são completamente emplumados, com pés fortes e possantes.
Dieta e comportamento de caça: Rapinante especializado na captura de aves, caça espécies variadas, desde tucanos, papagaios, periquitos e pombos, até urus e garças. Também caça, em menor frequência, lagartos, anfíbios e pequenos mamíferos. Brown & Amadon (1989) registraram ataques contra o pato-mergulhão (Mergus octosetaceus) e biguá (Phalacrocorax brasilianus). Sua principal estratégia de caça consiste em voar alto sobre o dossel da mata e áreas descampadas e mergulhar sobre presas, especialmente aves, voando abaixo, captuando-as em voo. Também espreita presas a partir de um poleiro no interior da mata, capturando no solo ou em voo.
Na Guiana Francesa, Thiollay (2007) relatou ataques frequentes do S. melanoleucus contra aves em árvores frutíferas. Em uma região de encosta no sul do Paraná, Rômulo Silva (2020, com. pess.) observou um indivíduo espreitando presas a partir de um poleiro no alto do morro. Ao observar uma asa-branca (Patagioenas picazuro) em voo no vale abaixo, o indivíduo saiu rapidamente do poleiro e mergulhou com as asas semifechadas contra a ave, atingindo-a com violência. Após a captura bem-sucedida, o gavião voou até um poleiro próximo onde consumiu a ave.
No Paraná, Menq (2015) relatou a captura de pequenos mamíferos em áreas semiabertas adjacentes a florestas. O mesmo autor também observou a espécie atacando, sem sucesso, um grupo de macacos-prego no interior de uma floresta (Sapajus libidinosus) (2018, obs. pess.).
Reprodução: Constrói o ninho com gravetos e ramos secos no alto de árvores emergentes; os ninhos são grandes e volumosos, podendo chegar até 1 m de diâmetro. A fêmea é responsável pela incubação, enquanto o macho é responsável pelo fornecimento de alimento para a fêmea e filhotes, principalmente nas fases iniciais da reprodução (incubação e primeiras semanas pós-eclosão do ovo). Coloca um único ovo, com período de incubação desconhecido. O filhote saiu do ninho com aproximadamente 80 dias de vida, e continua dependente dos adultos por quase um ano. Assim como outros rapinantes de grande porte, pode reaproveitar o ninho por várias temporadas reprodutivas.
Distribuição Geográfica: Ocorre desde o sul do México até o norte da Argentina, incluindo quase todo o Brasil, exceto região nordeste e extremo sul.
Habitat e comportamento: Encontrado solitário ou sem casal, habita uma variedade de ambientes florestais, desde florestas densas, capoeiras, matas de galeria e porções mais arbóreas do cerrado. Prefere áreas semiabertas com mosaicos de florestas altas e campos ou cerrados para forragear. Plana com frequência nas horas mais quentes da manhã, às vezes muito alto, aproveitando as correntes térmicas para ganhar ou manter altura. (Menq & Delariva 2015). No período pré-reprodutivo, o casal realiza uma série de exibições aéreas, que consistem em voos circulares altos, com perseguições e agarramento pelas garras; nesse período são mais ativos vocalmente.
Movimentos: Espécie residente.
Conservação: Segundo a Birlife Internacional (2009), não está globalmente ameaçado, com população global estimada entre 10.000 e 100.000 indivíduos. No Brasil encontra-se ameaçado de extinção na maioria dos estados sob domínio da Mata Atlântica, sendo o desmatamento e a descaracterização do seu habitat a principal ameaça para a espécie (ICMBio, 2008).
:: Página editada por: Willian Menq em Mai/2020. ::
Referências:
Bierregaard, R.O., Jr, Sharpe, C.J. & Boesman, P. (2013). Black-and-white Hawk-eagle (Spizaetus melanoleucus). In: del Hoyo, J., Elliott, A., Sargatal, J., Christie, D.A. & de Juana, E. (eds.) (2013). Handbook of the Birds of the World Alive. Lynx Edicions, Barcelona. (retrieved from http://www.hbw.com/node/53172 on 7 May 2015).
Canuto, M.; Zorzin, G.; Carvalho-Filho, E. P. M.; Carvalho, C. E. A.; Carvalho, G. D. M. & C. E. R. T. Benfica (2012) Conservation, management and expansion of protected and non-protected tropical forest remnants through population density estimation, ecology, and natural history of top predtors; case studies in birds of prey (Spizaetus taxon). pp. 359-388 in Dr. P. Sudarshana (ed.), Tropical Forests. InTech.
Canuto, M. (2008). First description of the nest of the Black-and-white hawk eagle (Spizaetus melanoleucus) in the Brazilian Atlantic Rainforest, southeast Brazil. Neotropical Ornithology 19: 607-610.
Ferguson-Lees, J. e D. A. Christie (2001) Raptors of the World. New York: Houghton Mifflin Company.
Márquez, C., Gast, F., Vanegas, V. & M. Bechard. (2005) Aves Rapaces Diurnas de Colombia. Bogotá: Instituto de Investigación de Recursos Biológicos Alexander von Humboldt. 394 p.
Menq, W. (2015). Observações comportamentais do gavião-pato Spizaetus melanoleucus (Accipitriformes, Accipitridae) no Estado do Paraná, Brasil. Arquivos de Ciencias Veterinárias e Zoologia da UNIPAR. 18(3): 175-178.
Menq, W., & Delariva, R. (2015). Aves de rapina (Cathartiformes, Accipitriformes, Strigiformes e Falconiformes) na Reserva Biológica das Perobas, Paraná, Brasil, e seu entorno. Biotemas. v. 28(4): 145-154.
Phillips. R.; Seminario, Y. (2009) Caracterização da idade em Spizaetus melanoleucus: Primeira documentação fotográfica. Neotropical Raptor Network (NRN). Boletim #8. Dez.
Sick, H. (1997) Ornitologia Brasileira. Nova Fronteira. RJ.
Thiollay, J.-M. 2007. Raptor communities in French Guiana: distribution, habitat selection, and conservation. Journal of Raptor Research 41:90-105.
Site associado: Global Raptor Information Network
Citação recomendada:
Menq, W. (2020) Gavião-pato (Spizaetus melanoleucus) - Aves de Rapina Brasil. Disponível em: < http://www.avesderapinabrasil.com/spizaetus_melanoleucus.htm > Acesso em:
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