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Gavião-de-penacho Spizaetus ornatus (Daudin, 1800)
Ordem: Accipitriformes | Família: Accipitridae | Politípica (2 subespécies)


Indivíduo adulto. Iporanga/SP. Foto: Sergio Messias

Águia florestal poderosa e elegante, possui um notável penacho negro que se ergue de forma ereta, além de uma plumagem chamativa. Ao contrário dos seus congêneres, é mais discreto e plana com menor frequência. Pode ser encontrado em diversos tipos de formações florestais, desde florestas primárias até cerrados mais arbóreos e Matas Secas. É um predador astuto e ágil, realiza ataques furtivos de curto alcance para capturar mamíferos e aves de médio porte, às vezes com quase o dobro de seu tamanho. Também conhecido como apacanim e águia-de-penacho.


Descrição:
Mede de 58-65 cm de comprimento, peso de 964-1000 g (macho) e 1389-1607 g (fêmea). Adulto apresenta dorso e asas marrom-escuro, quase negro; peito e partes inferiores brancas com forte barramento negro; as laterais do pescoço, nuca e parte do peito apresenta uma notável coloração castanho-avermelhada. Apresenta um topete peto que pode medir até 10 cm. Os tarsos são completamente emplumados, e sua cauda longa apresenta três barras cinza-pardacentas. O jovem apresenta dorso marrom-pardacento, branco dominante por baixo, com apenas os flancos e tarsos barrados. O castanho do pescoço e as demais características da plumagem adulta surgem com as mudas consecutivas.

Espécies similares: Pode ser confundido com o jovem de tautaó-pintado (Accipiter poliogaster), que apresenta um padrão de coloração muito semelhante ao adulto do Spizaetus ornatus. Porém, o A. poliogaster é pequeno, sem topete e não apresenta os tarsos emplumados. Há também uma raríssima variação de plumagem do jovem gavião-de-cabeça-cinza (Leptodon cayanensis), que imita quase que perfeitamente o adulto do S. ornatus, diferenciando-se principalmente pelos tarsos menos robustos e não-emplumados, formato do bico e íris. Em voo alto, o adulto pode ser confundido com o gavião-pega-macaco (Spizaetus tyrannus) e com o caracoleiro (Chondrohierax uncinatus). Já o jovem S. ornatus pode ser confundido com o gavião-pato (Spizaetus melanoleucus).

Dieta e comportamento de caça: Apresenta uma dieta diversificada, com variações locais. Caça principalmente aves e mamíferos de porté médio, dentre as presas principais, pode-se destacar araras (Ara), papagaios (Amazona), baitacas (Pionus), tucanos (Ramphastos), cracídeos (Penelope, Ortalis e Crax), macucos (Tinamus), inhambus (Crypturellus), urus (Odontophorus) e pombas (Columba e Leptotila), além de cutias (Dasyprocta), gambás (Didelphis), serelepes (Sciurus), quatis (Nasua) e porcos-espinho (Coendou). Répteis, como grandes lagartos (Tupinambis), são capturados em menor frequência.

Trata-se de um predador ágil e poderoso, realiza ataques furtivos de curto alcance para capturar aves e mamíferos de médio porte, às vezes com quase o dobro de seu tamanho (ex. mutuns e cutias). Caça no interior da floresta, usando poleiros altos para observar a passagem de possíveis presas. Desloca-se silenciosamente e rapidamente entre as árvores, capturando presas tanto no solo quanto nas árvores. Rodinson (1994) relatou quatro observações no Peru, do S. ornatus atacando saracuras e frangos d'agua em banhados. Na Guatemala, um estudo sobre a dieta da espécie apontou que 55% da biomassa de presas era constituida por aves, 31% por mamíferos e 19% de outros vertebrados não identificados.


Indivíduo adulto com uma cutia (Dasyprocta) recém capturada. Derrubadas/RS, Maio de 2015. Foto: Dante Meller

Reprodução: Realiza voos de acasalamento um ou dois meses antes do início da postura dos ovos, com trabalhos de retoque no ninho dias antes da postura. Constrói o ninho no topo de árvores emergentes, com alturas que variam de 16 a 30 m. O ninho é construído na bifurcação primária ou secundária da árvore, uma imensa plataforma de galhos secos que pode ultrapassar 1 metro de comprimento e largura. Normalmente coloca um único ovo, que é incubado pela fêmea por 48-51 dias. Nesse período é alimentada pelo macho, como acontece em outros accipitrídeos. O filhote abandona o ninho com 80 dias de vida, mas permanece nas redondezas, dependendo dos pais por até 15 meses, fazendo com que haja um intervalo de pelo menos dois anos entre uma reprodução e outra.

No Rio Grande do Sul, Joenck et al. (2013) translocaram um ninho com filhote que estava situado próximo de uma barragem. O ninho foi translocado para um local seguro a cerca de 380 m do local original. A translocação foi considerada bem sucedida devido à aceitação do filhote translocado pelos pais, incluindo todo o cuidado parental e defesa da área do ninho.

Distribuição e subespécies:
Ocorre desde o sul do México até o Paraguai, norte da Argentina, incluindo quase todo o Brasil. São conhecidas duas subespécies:

  • S. o. vicarius: ocorre das florestas úmidas do sul do México até o oeste da Colômbia e oeste do Equador.
  • S. o. ornatus: ocorre da região tropical úmida do norte da América do Sul até o norte da Argentina e por todo o Brasil.

No Brasil, ocorre em quase todas as regiões, exceto nas áreas mais secas do nordeste e nos pampas gaúchos. Cerqueira et al. (2015) registraram o S. ornatus em uma área de caatinga no sul do Piauí, expandindo a distribuição da espécie para essa região.

Habitat e comportamento: Estritamente florestal, pode ser encontrado nas mais distintas variações das florestas equatoriais e tropicais úmidas e estacionais e, no cerrado, pode ser observado em matas de galeria e matas ciliares preservadas, situadas até 900 m acima do nível do mar.

Ao contrário de seus congêneres, não plana com muita regularidade, no entanto, no período reprodutivo pode ser observado voando com mais frequência sobre a mata, vocalizando e realizando voos nupciais. Segundo Canuto (2008), é uma espécie muito sensível a fragmentação do habitat e da presença humana, raramente aparecendo nas bordas de florestas, que pode limitar sua capacidade de dispersar em ambientes fragmentados.

Movimentos: Espécie residente.

Ameaças e conservação: Fora da região amazônica está criticamente ameaçado de extinção, presente em todos os livros vermelhos dos Estados sob domínio da Mata Atlântica. A alteração e a erradicação do habitat é um dos principais motivos do desaparecimento da espécie em vários trechos de Mata Atlântica no país (Mikich & Bernils, 2004; ICMBio 2008). Além disso, pode-se mencionar que ataques fortuitos deste rapineiro a animais de criação acabam por estimular abates, os quais, ainda que pontuais, colaboram com o declínio desta espécie (Mikich & Bernils, 2004; ICMBio, 2008).

 

:: Página editada por: Willian Menq em Fev/2018. ::

 


Referências:

Albuquerque, J. L. B. (1995) Observations of rare raptors in Southern Atlantic rainforest of Brazil. J. Field Ornithol. 66: 363-369.

Canuto, M. (2008) Observations of two hawk-eagle species in a humid lowland tropical forest reserve in central Panama. Journal of Raptor Research 42:287-292.

Cerqueira, P. V., Gonçalves, G. S. R., Sousa, S. A., Paz, R. L., Landim, A. S. & Santos, M. P. D. (2015) First Record of the Ornate Hawk-Eagle (Spizaetus ornatus) from the Brazilian Caatinga. The Wilson Journal of Ornitholog 127(1):153–156.

Dornas, T. & Pinheiro, R. T. (2007) Predação de Opisthocomus hoazin por Spizaetus ornatus e de Bubulcus ibis por Bubo virginianus em Tocantins, Brasil. Revista Brasileira de Ornitologia 15(4):601-604.

Ferguson-Lees, J. & D. A. Christie (2001) Raptors of the World. New York: Houghton Mifflin Company.

Joenck, C. M.; Zilio, F. & Mendonça-Lima, A. (2013) Successful translocation of a nestling Ornate Hawk-Eagle (Spizaetus ornatus) in southern Brazil. Revista Brasileira de Ornitologia, 21(2), 136-140

Lima, A., Zilio. F., Joenck, C. M. e Barcellos, A. (2006) Novos registros de Spizaetus ornatus (Accipitridae) no sul do Brasil. Revista Brasileira de Ornitologia 14 (3) 279-282.

Robinson, S.K. (1994) Habitat selection and foraging ecology of raptors in Amazonian Peru. Biotropica 26:443-458.

Sick, H. (1997) Ornitologia brasileira. Rio de Janeiro: Ed. Nova Fronteira, 862p.

Zorzin, G., C.E.A. Carvalho, E.P.M. Carvalho Filho & M. Canuto. (2006) Novos registros de Falconiformes raros e ameaçados para o estado de Minas Gerais. Revista Brasileira de Ornitologia 14 (4): 417-421.

Site associado: Global Raptor Information Network

 

 

Citação recomendada:

Menq, W. (2018) Gavião-de-penacho (Spizaetus ornatus) - Aves de Rapina Brasil. Disponível em: < http://www.avesderapinabrasil.com/spizaetus_ornatus.htm > Acesso em: .




 
 

Distribuição Geográfica:

Status: (NT) Quase ameaçado

Canto - (gravado por: Augusto Alves)
By: xeno-canto.




Fêmea adulta.
Iporanga/SP, Jan. de 2013.

Foto:
Matias H. Ternes
 

Indivíduo adulto.
Campo Belo do Sul/SC, Ago. 2013.
Foto:
Guilherme Willrich
 

Indivíduo jovem.
Iranduba/AM, Out de 2015.
Foto:
Renata Xavier
 

Adulto e filhote no ninho.
Iporanga/SP, Dez. 2012.
Foto:
Hiroshi Hattori
 

Indivíduo adulto.
Corguinho/MS, Dezembro 2015.
Foto:
Willian Menq
 

Fêmea e jovem no ninho.
Iporanga/SP, Janeiro de 2013.

Foto:
Matias H. Ternes
 

Fêmea atacando ninho de suiriri.
Iporanga/SP, Jan. de 2013.
Foto:
João Sérgio Barros
 

Indivíduo adulto.
Corguinho/MS, Dezembro 2015.
Foto:
Willian Menq
 

Suiriri realizando "mobbing" contra o gavião. Iporanga/SP, Janeiro 2013.
Foto:
João Sérgio Barros
 

Indivíduo adulto.
Urubici/SC, Janeiro de 2016.
Foto:
Willian Menq
 

Indivíduo adulto.
Chapada dos Guimarães/MT.
Foto:
Eduardo Patrial