Sobre mim. Sou Biólogo, 58 anos, nasci em Porto Alegre/RS, iniciei minha graduação de Ciências Biológicas na UNISINO e acabei concluindo na Universidade Federal da Paraíba (1981), cursei mestrado em Zoologia na Brigham Young University nos EUA (1984) e doutorado em Genética e Biologia Molecular pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1996). Minha linha de pesquisa é ecologia e conservação de aves de rapina da Mata Atlântica. Na minha tese de mestrado trabalhei com os falcões peregrinos no sul do Brasil (título: The Peregrine Falcon (Falco peregrinus) in Southern Brazil: Aspects of winter ecology in an urban environment) e durante o doutorado minha pesquisa foi com as aves da mata atlântica (titulo da tese: padrões de variação geográfica em algumas espécies de aves da Floresta Atlântica brasileira: o papel de eventos vicariantes).
Sobre sua carreira
Ajudei a montar o programa de educação ambiental no Hotel Plaza Caldas da Imperatriz em Santo Amaro da Imperatriz em Santa Catarina no ano de 1989; fui professor na Universidade do Sul de Santa Catarina; ajudei a fundar a ONG Associação Montanha Viva; trabalhei com o professor Drº Luiz dos Anjos da UEL no projeto de biodiversidade da mata atlântica com meu projeto gaviões de penacho nas nascentes do rio canoas em Urubici. Fui co-editor do volume especial da Revista Ararajuba sobre aves de rapina diurnas publicado em 2006 e participei do grupo de trabalho em aves de rapina do Ibama para a elaboração do Plano de Ação para as Aves de Rapina do Brasil em 2006. Também fui organizador de alguns planos de ações estaduais, nacionais e conto com várias publicações envolvendo aves de rapina. Sobre o mercado de trabalho atual, vejo ele promissor para as áreas ligadas a pesquisa médica e bioquímica. Para biólogos de campo, vejo igualmente promissor na área de consultoria ambiental.
Fale um pouco sobre o Projeto Gaviões de Penacho
O Projeto gaviões de penacho, iniciado em 2003, foi idealizado para reunir informações sobre os padrões de abundância das espécies de aves de rapina consideradas pela nossa equipe como ameaçadas. Espécies de gaviões do gênero Spizaetus, Harpya, Morphnus ainda ocorrem no sul do Brasil nas escarpas da Serra Geral e do Mar. Já nos cada vez mais escassos fragmentos florestais no planalto sulino temos observado uma ocorrência truncada destas espécies. Atualmente temos informações sobre comunidades de aves de rapina nas cabeceiras do Rio Canoas, no entorno do Parque nacional de São Joaquim; na Ilha de Santa Catarina; na região atingida pelo lago da Barragem Barra Grande, noroeste do Paraná e no oeste de Santa Catarina. O Projeto desenvolveu algumas pesquisas na mata atlântica do sul do Brasil. O trabalho iniciou no Alto Rio Canoas onde foram registradas uma das mais diversificadas comunidades de aves de rapina diurnas no sul do Brasil. Cerca de 27 espécies foram registradas, salientando a presença dos gaviões de penacho, como o gavião-pega-macaco (Spizaetus tyrannus), o gavião-penacho (S. ornatus), gavião-pato (S. melanoleucus), gavião-pombo-grande (Pseudastur polionotus), a águia-cinzenta (Harpyhaliaetus coronatus) e o raro e elusivo gavião-real-falso (Morphnus guianensis). A época em que começamos esse projeto foi um dos momentos mais marcantes de minha carreira.
Como iniciou sua vida na biologia, em especial a paixão pelas aves de rapina?
Durante o inicio de minha graduação na UNISINOS conheci pessoas muito queridas, lá tinha um museu de história natural onde aprendi bastante coisa sobre aves, morcegos, etc. Acompanhava muito as coletas de morcegos e trabalhos com redes e comecei a ver muito bicho. Nessa época conheci o William Belton. Um dia fui em uma área bem bacana no município de Lavras do Sul/RS onde visualizei pela primeira vez a águia-serrana em um penhasco, havia um ninho por ali e, a partir dessa época me apaixonei pelas aves de rapina, esse momento mudou minha vida. Em São Leopoldo/RS, costumava ver com frequência os gaviões-caramujeiros, observava eles de muito perto nos rios, achava incrível. Quando estive nos EUA, frequentava muito a Universidade de Utah, por lá visualizava muitas espécies interessantes em campo, como águia-americana, águia-dourada, Accipiters, etc. Lembro que tinha um pessoal que fazia doutorado com essas aves e às vezes eu os ajudava. Por volta de 1977 eu saía muito a campo com meu professor de mestrado, o Clayton White e compartilhavamos muitas experiências.
Fale um pouco sobre suas experiências com William Belton e com o Helmut Sick
Meu professor na graduação, o Flávio Silva, era muito amigo do William Belton, que era um ornitólogo de renome internacional, responsável por quase todo o conhecimento hoje acumulado sobre as aves do Rio Grande do Sul, acabei conhecendo o Belton. Teve uma vez que o Belton levou vários alunos para observar aves em Osório/RS, ai visualizavamos muitas espécies, e eu só focava minha atenção para as aves de rapina. Nessa época eu trocava muita carta com o Helmut Sick, contando dos meus registros e observações, ele muito atencioso gostava de me ajudar e sempre me respondia. Com o tempo acabei ficando amigo do Sick. Lembro de uma vez em que sai de João Pessoa/PB e parei de avião no Rio de Janeiro, fiquei um tempão lá falando com o Helmut Sick, conversamos muito. Com o Sick eu aprendi muita coisa, ele me levava no Museu Nacional e me mostrava as peles de aves, em especial a dos gaviões, que era o meu maior interesse. Com isso, acabei aprendendo muito sobre as aves de rapina através dos espécimes de museu! O Sick era um amigão, muito gente boa, muito querido!
Qual sua espécie favorita?
O Falcão Peregrino!
Mensagem aos jovens biólogose estudantes de biologia:
Aos jovens biólogos e estudantes de graduação dou alguns conselhos, primeiro conselho: acreditem no coração de vocês, façam o que amam e com o coração. Isso já guia vocês para coisas boas, paciência acima de tudo. Respeito e comprometimento com a natureza; se forem consultores, sejam honestos e não omitam dados como é frequente nos EIA RIMA de hoje e de ontem. Diria que uma das coisas que mais faltam hoje em dia nos profissionais de biologia é o engajamento com a questão da conservação na prática. Exemplo disso é a questão de um projeto de mineração de fosfato nas nascentes do rio braço do norte no município de Anitápolis, SC. Lancei o alerta sobre esse projeto de mineração em 2005, passaram 4 anos sem ninguém dizer nada, fora alguns comentários no meu blog. Esse projeto afetará as nascentes de um grande rio catarinense que abastece mais de 300 mil pessoas e pode afetar as matas do corredor da serra geral. Biólogo nenhum disse nada sobre esse problema. Procurei professores universitários de conservação e biologia e nada. Precisamos de engajamento, pois a natureza é frágil e a tecnologia é poderosa para destuir e incopetente para corrigir os estragos deixados pela mineração.
Se assistirmos calados a tudo isso que nos cerca, em pouco tempo nosso mundo será destruido. Vejam a questão das mudanças climáticas. A gente pode sim interferir nesse processo. Aqui na ONG Associação Montanha Viva entramos com uma ação cívil pública contra a Bunge e Yara, donas da fosfateira de Anitápolis. Embargamos o projeto e já vencemos 12 vezes na justiça. Nossa liminar continua viva e a fosfateira embargada. A lição disso é que somos sim capazes de fazer a diferença. Precisamos lutar pela natureza e não nos aproveitar dela. A natureza é sensível e tem nos mantidos vivos por todos esses milênios, e em poucos séculos o homem está destruindo tudo. Podemos sim fazer a diferença!
Dr. Jorge L.B. Albuquerque
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