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Caburé-do-pernambuco Glaucidium mooreorum (Silva, Coelho & Gonzaga, 2002)
Ordem: Strigiformes | Família: Strigidae | Monotípica


Ilustração de: Carl Christian Tofte

O caburé-do-pernambuco é uma das corujas mais enigmáticas do mundo. É endêmica do nordeste do Brasil, restrita aos últimos remanescentes florestais do Estado do Pernambuco. Foi descrita em 2002 com base em dois exemplares antigos de museu, sua voz também foi gravada na década de 90. Desde então nunca mais foi registrada, expedições ornitológicas foram realizadas nas florestas de Pernambuco e Alagoas na intenção de registrá-la, mas todas sem sucesso. Devido à ausência de registros, atualmente é considerada como provavelmente extinta da natureza.


Descrição:
Mede 14 cm de comprimento e peso médio de 51 g. Adulto apresenta dorso marrom, com partes inferiores (barriga e ventre) brancas densamente estriada de marrom-claro. A cabeça é marrom-acinzentada, com pequenos pontilhados branco; íris, bico e dedos amarelos. Distingue-se das outras Glaucidium pela cauda mais longa, asa curta, e também pela vocalização. Assim como suas congêneres brasileiras, essa espécie possui dois ocelos desenhados na parte de trás da cabeça, parecendo "olhos falsos". Esses olhos falsos da nuca, que simulam um rosto, são chamados de face occipital, que serve para confundir suas presas (especialmente aves durante comportamento de tumulto), aumentando as oportunidades de caça da coruja.

Vocalização: Sua vocalização consiste em uma canção curta composta por 5-7 notas, com ligeira diminuição da frequência média de notas. A quarta e a quinta nota de são as que apresentam maiores picos de amplitude, de modo que a vocalização fique mais acentuada antes do final. Essa mudança ascendente na frequência de notas e a diminuição da frequência média ao longo da canção parece ser uma característica única entre as espécies do gênero Glaucidium dos neotropicos.

Taxonomia: Foi descrita por Silva et al. (2002) com base em dois exemplares taxidermizados (depositado na Coleção Ornitológica da Universidade Federal de Pernambuco, nº. 1030 e nº. 1017), procedentes da Reserva Biológica de Saltinho, Rio Formoso/PE. Seu nome científco mooreorum foi em homenagem a Gordon Moore, presidente emérito da empresa de tecnologia Intel, que realizou importantes contribuições financeiras à conservação da biodiversidade brasileira.

Pertence ao complexo G. minutissimum e, provavelmente, mais intimamente relacionada com G. hardyi; difere vocalmente e, em certa medida, morfologicamente das outras espécies deste complexo, e está geograficamente bem isolada. Por questões taxonômicas, alguns autores nomeiam a G. mooreorum como G. minutissimum; e a G. minutissimum como G. sicki (Konig & Weick 2008). No entanto, a maioria das autoridades recentes não concordam com tal classificação.

Dieta e comportamento de caça: Dados desconhecidos. Há registros da espécie consumindo uma cigarra (Cicadidae); provavelmente se alimenta de uma ampla variedade de insetos, além de pequenos vertebrados (roedores, lagartos e aves).

Reprodução: Dados desconhecidos. É provável que nidifique em cavidades naturais em árvores ou ocos abertos por pica-paus, assim como suas congêneres. Sabe-se que é vocalmente ativa entre os meses de abril-maio (estação chuvosa).

Distribuição geográfica: Endêmica do nordeste do Brasil, ocorre apenas nos últimos remanescentes florestais do Estado do Pernambuco, entre os rios São Francisco e Cabo São Roque).

Há também duas peles de Glaucidium coletadas por Maximilian zu Wied e Wucherer no interior da Bahia (que atualmente estão na coleção do Museu de História Natural de Tring, Reino Unido). Os espécimes foram coletados por volta de 1830, e são idênticos com a descrição da espécie. Por isso, Konig & Weick (2008) assumiram que a espécie já ocorreu em alguma região da Bahia durante a primeira metade do século de 19, se extinguindo após a destruição quase total da Mata Atlântica baiana (especialmente no norte da BA).

Habitat e comportamento: Foi encontrada no dossel alto de uma floresta úmida, em altitudes que variam do nível do mar até 150 m. É conhecida apenas por dois registros: um da década de 90, obtido na Reserva Biológica Saltinho/PE, unidade de conservação de 565 ha; e outro (não confirmado) de 2001, realizado na Usina Trapiche, em Sirinhaém/PE, um remanescente florestal de aproximadamente 100 ha. (Silva et al. 2002). Desde então, a espécie não foi mais registrada.

Conservação: Atualmente considerada extinta pela lista de espécies ameaçadas do Brasil (ICMBIO 2014), uma vez que nunca mais foi registrada na natureza. Nas últimas décadas, sua vocalização tem sido experimentada em alguns remanescentes florestais do Pernambuco (inclusive nos dois onde havia registros antigos), na tentativa de atraí-la, mas apesar de haver comportamento agonísticos de outras aves, não houve resposta. Outros autores, como Pereira et al. (2014) também apontam a provável extinção da espécie, considerando que a mesma não é registrada a mais de uma década.

Movimentos: Espécie provavelmente residente.


:: Página editada por: Willian Menq em Fev/2018. ::



Referências:

ICMBio, (2008) Plano de ação nacional para a conservação de aves de rapina / Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, Coordenação-Geral de Espécies Ameaçadas. – Brasília: 136 p. ; il. color. : 29 cm. (Série Espécies Ameaçadas, 5).

Konig, C. & Weick, F. (2008) Owls of the world. Segunda Edição. New Haven, Connecticut: Yale University Press.

Pereira, G. A.; Dantas, S. M.; Silveira, L. F.; Roda, S. A.; Albano, C.; Sonntag, F. A.; Leal, S.; Periquito, M. C.; Malacco, G. B. & Lees, A. C. (2014) Status of the Globally Threatened forest birds of northeast Brazil. Papéis Avulsos de Zoologia, MZUSP. V. 54(14):177-194.

Silva, J. M. C. da; Coelho, G. & Gonzaga, L. P. (2002) Discovered on the brink of extinction: a nex species of Pygmy-Owl (Strigidae: Glaucidium) from Atlantic Forest of northeastern Brazil. Ararajuba, v. 10, n. 2, p. 123-130.

Margit, A. (2003) Descoberta nova ave na Mata Atlântica. Revista ECO 21, Edição 79.

 


Citação recomendada:

Menq, W. (2018) Caburé-do-pernambuco (Glaucidium mooreorum) - Aves de Rapina Brasil. Disponível em: < http://www.avesderapinabrasil.com/glaucidium_mooreorum.htm > Acesso em: .



 
 

Distribuição Geográfica:

Status: (EX) Prov. extinta

Canto - (gravado por: Galileu Coelho)