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Uiraçu Morphnus guianensis (Daudin, 1800)
Ordem: Accipitriformes | Família: Accipitridae | Monotípica

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Indivíduo adulto. Foto: Christopher Borges

Trata-se de uma rara e poderosa águia-florestal. No Brasil é encontrada apenas na região amazônica e nos poucos remanescentes preservados da Mata Atlântica do sudeste. Dieta variada, caça desde aves grandes como jacus, até serpentes e pequenos primatas. Conhecido também por uiraçu-falso, falsa-harpia, gavião-de-penacho, gavião-real-falso e gavião-uiraçu.


Descrição:
Mede de 71-89 cm de comprimento com peso de 1275 g (macho) e 1750-1948 g (fêmea), (Bierregaard & Kirwan 2015). A cor da plumagem varia entre indivíduos, havendo exemplares adultos de dois tipos básicos, forma clara e forma escura. Em todas as formas, no entanto, é possível notar o penacho negro no alto da cabeça. Adulto (forma clara): apresenta dorso marrom-acinzentado, partes inferiores cinza-claro com finas barras bege-claro, cabeça e pescoço cinza-claro com uma notável máscara negra; cauda longa com três faixas cinzas. Adulto (forma escura): padrão pouco comum, é totalmente preto, com finas estrias brancas no ventre e cauda barrada. Jovem: apresenta a cabeça e partes inferiores esbranquiçadas e parte superiores cinza-claro.

Dieta e comportamento de caça: Caça aves grandes como jacus e jacamins, serpentes e pequenos mamíferos, como macacos e esquilos (Sick, 1997; Bierregaard & Kirwan 2015). Caça a partir de um poleiro, executa longos voos entre a densa folhagem das copas das árvores no interior da floresta, capturando macacos e outros primatas. Também empoleira-se próximo de árvores de frutificação para capturar as aves que ali frequentam. As serpentes estão presentes em grandes quantidades em muitos trabalhos sobre a alimentação da espécie.

Bierregaard (1984) observou principalmente répteis na alimentação de filhotes, enquanto Robinson (1994) registrou exclusivamente macacos. Sanaiotti (com. pess.) durante a visita a um ninho ativo encontrou pequenos marsupiais, cobras e aves de rapina. Bierregard (1984) relata predação de pequenos mamíferos e marsupiais, serpentes (Colubridae e Boidae), jupará (Potus flauvus), anfíbios anuro, além de um ataque, sem sucesso a um grupo de jacamim-de-costas-cinzentas (Psophia crepitans). Há registros de predação contra macacos (Pithecia pithecia) (Gilbert, 2000), jovem macaco-aranha (Ateles paniscus) (Julliot, 1994), saguis (Saguinus geoffroyi), esquilos (Scirurus sp.) e filhote de preguiça de três dedos (Bradypus variegatus) (Vargas et al.,2006). Trail (1987) observou um ataque sem sucesso sobre galo-da-serra (Rupicola rupicola).

Reprodução: Os ninhos são construídos a cerca de 30 m do solo e podem ser reutilizados durante vários períodos reprodutivos. Coloca de 1 a 2 ovos entre setembro a dezembro, não há registros de sobrevivência de mais de um filhote por ninhada. O tempo de incubação é estimado entre 40 e 50 dias e durante esse período o macho fica responsável de providenciar todo o alimento necessário para si e para a fêmea (Mikich & Bernils, 2004). Sanaiotti (in litt.) observou dois ninhos e ambos tinham seus filhotes prontos para voar em junho de 2007. O ninho possui menor porte que o de H. harpyja, de 1,1 a 1,3 metros de diâmetro e sem o uso de árvores emergentes.

Bierregaard Júnior (1984) acompanhou um ninho próximo de Manaus/AM, mas não pôde registrar o desenvolvimento do filhote devido ao seu desaparecimento (provável perda da cria para predadores ou morte dos adultos por caçadores). O ninho observado por Bierregaard (1984) no período de março a junho levou o autor a inferir que a incubação pode ser de 40 a 50 dias, sendo a postura feita entre meados de fevereiro e meados de março, no pico da estação de chuva.

Distribuição geográfica: Originalmente ocorria desde a América Central, a partir da Guatemala e Belize; em terras baixas, a oeste dos Andes na Colômbia e Equador; no sul do Paraguai e nordeste da Argentina e Brasil.

No Brasil, atualmente é encontrado apenas na região amazônica e alguns poucos trechos preservados da Mata Atlântica do sudeste (costa sul de São Paulo e sul da Bahia).

Habitat e comportamento: Habita as florestas primárias e secundárias da América Central e América do Sul, em altitudes que vão desde o nível do mar até acima dos 1.000 m. Vive solitariamente ou em pares, passando boa parte do tempo imóvel, oculto em um poleiro alto de onde procura suas presas. É considerado mais raro que o gavião-real (Harpya harpyja) (Fergunson-Lee et al. 2001), mas isso pode ser uma questão de detecção diferenciada entre as espécies pelos observadores.

Registros recentes e status populacional: Atualmente conta com populações consideráveis na região amazônica, onde ainda há grandes áreas contínuas de florestas úmidas, sendo raríssimo no restante do Brasil. Registros recentes na Mata Atlântica são escassos, os últimos foram obtidos por Albuquerque et al. (2006) na Serra Geral em Grão Pará/SC, por Costa-Araújo et al. (2015) em um fragmento de floresta no sul da Bahia, e por Moraes et al. (2015) na Reserva do Meleiro, em Felixlândia/MG, a cerca de 80 km fora do limite da Mata Atlântica. Também conta com um avistamento feito por um grupo de observadores de aves no Parque Estadual de Intervales (Ribeirão Grande/SP), em 2015 e 2017, e no Parque Estadual da Caverna do Diabo (Eldorado/SP) em 2017.

Movimentos: Espécie residente.

Ameaças e Conservação: O M. guianensis se enquadra no grupo de aves de rapina de grande porte estritamente florestais, que necessitam de extensas áreas de vegetação primária ou pouco modificada para sobreviver, incluindo a disponibilidade de itens alimentares (vertebrados de médio porte) e de sítios adequados para reprodução e abrigo. A alteração e a erradicação do habitat é um dos principais motivos do desaparecimento da espécie em vários trechos de Mata Atlântica no país (Mikich & Bernils, 2004). Além disso, pode-se mencionar que ataques fortuitos deste rapineiro a animais de criação acabam por estimular abates, os quais, ainda que pontuais, colaboram com o declínio desta espécie (Mikich & Bernils, 2004; ICMBio, 2008).

 

:: Página editada por: Willian Menq em Fev/2018. ::

 


Referências:

Albuquerque, J. L. B.; Ghizoni-Jr, I. R.; Silva, E. S.; Trainnini, G.; Franz, I.; Barcellos, A.; Hassdenteufel, C. B.; Arend, F. L.; Martins-Ferreira, C. (2006) Águia cinzenta (Harpyhaliaetus coronatus) e o gavião-real-falso (Morphnus guianensis) em Santa Catarina e Rio Grande do Sul: Prioridades e desafios para sua conservação. Revista Brasileira de Ornitologia, 14 (4): 411-415.

Bierregaard-Jr, R.O. (1984) Observations on the nesting biology of the Guiana Crested Eagle (Morphnus guianensis). Wilson Bulletin 96:1-5.

Costa-Araújo, R.; Silveira, L. F. & Luz, D. E. (2015) Rediscovery of the Crested Eagle Morphnus guianensis (Daudin, 1800) in the fragmented Atlantic Forest of Bahia, Brazil. Revista Brasileira de Ornitologia, 23(1): 25-28.

Ferguson-Lees, J. e D. A. Christie (2001) Raptors of the World. New York: Houghton Mifflin Company.

Gilbert, K.A. (2000) Attempted predation on a White-faced Saki in the Central Amazon. Neotropical Primates 8:103-104.

Julliot, C. (1994) Predation of a young Spider Monkey (Ateles paniscus) by a Crested Eagle (Morphnus guianensis). Folia Primatologica 63:75-77.

Márquez, C., Gast, F., Vanegas, V. & M. Bechard. (2005) Aves Rapaces Diurnas de Colombia. Bogotá: Instituto de Investigación de Recursos Biológicos Alexander von Humboldt. 394 p

Moraes, L. L., Souza, A. Z. & Ribon, R. (2015) First record of the Crested Eagle, Morphnus guianensis (Daudin, 1800) (Aves, Accipitridae) in the Cerrado of Minas Gerais state, Brazil. Check List 11(4): 1670. Disponível em: biotaxa.org/cl/article/view/11.4.1670/13606

Sick, H. (1997) Ornitologia Brasileira. Nova Fronteira, RJ

Trail, P.W. (1987) Predation and antipredator behavior at Guianan Cock-of-the-rock leks. Auk 104:496-507.

Vargas G., J.d., R. Mosquera, & M. Watson. (2006) Crested Eagle (Morphnus guianensis) feeding a post-fledged young Harpy Eagle (Harpia harpyja) in Panama. Ornitologia Neotropical 17:581-584.

Site associado: Global Raptor Information Network

 

Citação recomendada:

Menq, W. (2018) Uiraçu (Morphnus guianensis) - Aves de Rapina Brasil. Disponível em: < http://www.avesderapinabrasil.com/morphnus_guianensis.htm > Acesso em: .



 
 

Distribuição Geográfica:

Status: (VU) Vulnerável

Chamado - (gravação: Jarol F. Vaca)
By: xeno-canto.





Macho adulto (forma clara)
em voo sobre a floresta.
Foto: Andrew Whittaker
 

Indivíduo adulto.
Paranaíta-MT, Janeiro de 2012
Foto: Christopher Borges
 

Indivíduo adulto (melânico).
Rio Approuague. Guiana francesa, Agosto 2011. Foto:
Johann Tascon
 

Fêmea adulta no ninho.
Manacapuru/AM, Agosto de 2010.
Foto:
Felipe Bittioli R. Gomes
 

Fêmea adulta.
Manacapuru/AM, Agosto de 2010.
Foto:
Felipe Bittioli R. Gomes
 

Indivíduo jovem.
Manacapuru/AM, Nov. 2014.
Foto: Isabela R. Alves